Excedente precisa ser 'desperdiçado' e não se traduz em tarifas mais baixas na conta de luz. Além disso, peso dos subsídios só cresce na tarifa do consumidor.
Por Paula Paiva Paulo, g1
Se há energia sobrando, por que a conta de luz está na bandeira vermelha, a mais cara?
O Brasil vive hoje um paradoxo em seu sistema elétrico: em alguns momentos de excesso precisa cortar a geração de energia renovável, e, em outros, aciona termelétricas, mais caras e poluentes.
🔌Esse excesso tem levado a cortes na geração de energia — o chamado curtailment — que estão cada vez mais frequentes e já geram prejuízos bilionários aos setores eólico e solar.
Na reportagem sobre o tema, leitores questionaram por que este excesso de energia não faz o preço da conta de luz cair.
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Excedente (ainda) não pode ser armazenado
Apesar de o Brasil ter, em alguns momentos do dia, mais geração de energia renovável do que demanda de consumo, esse excedente ainda não pode ser armazenado. E, para evitar sobrecarga no sistema, o Brasil precisa cortar a geração em parques eólicos e usinas solares.
"O Brasil trabalha com uma matriz energética diversificada, composta por diferentes fontes. Algumas são consideradas usinas de base - aquelas que posso acionar quando quiser, porque contam com armazenamento, como as térmicas e as hidrelétricas. E também temos as fontes renováveis, que eu chamo de perecíveis, porque, se não forem usadas no momento em que são geradas, acabam se perdendo", explica Jonathan Colombo, engenheiro e professor do MBA em ESG de Mudanças Climáticas e Transição Energética da FGV.
➡️Ou seja, o excedente precisa ser “desperdiçado” e não se traduz em tarifas mais baixas na conta de luz. E, como em momentos de alta demanda - como no começo da noite - as renováveis geram menos energia, o país recorre a fontes que podem ser acionadas a qualquer momento, como as termelétricas, que custam mais caro e impactam na bandeira tarifária.
🔋Por isso, a tendência mundial tem sido investir em baterias capazes de armazenar eletricidade nos momentos de sobra. De acordo com Gustavo Ponte, superintendente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o custo dessas baterias tem caído no mundo todo, puxado especialmente pelo mercado de veículos elétricos.
Por dentro da conta de luz: o peso dos subsídios
A composição da tarifa de luz também ajuda a explicar por que o excedente de energia não reduz o valor final pago pelo consumidor. A conta de luz reúne uma série de componentes: geração, transmissão, distribuição, encargos e tributos.
O maior peso vem da geração de energia, ou seja, da fonte responsável pela produção da eletricidade. Essa fatia representa cerca de 30% da tarifa, segundo a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).
Em seguida, aparecem os custos de distribuição (26%), tributos (18%), encargos (15%) e transmissão (10%).
É nos tributos e encargos que estão os subsídios — incentivos concedidos pelo governo a determinados setores. De acordo com o Subsidiômetro da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), até 30 de outubro de 2025 os subsídios representavam 17,5% da tarifa do consumidor.
Entre os setores beneficiados, estão, por ordem de peso:
- Fontes incentivadas, como energia solar e eólica.
- Geração distribuída: popularmente conhecida como “energia de telhado”, são os painéis solares instalados em residências e empresas.
- Conta de Consumo de Combustível (CCC): que cobre o custo da energia a diesel usada em sistemas isolados da Amazônia.
- Tarifa social: desconto para famílias inscritas no CadÚnico.
📈 Nos últimos anos, o valor destinado aos subsídios cresceu. Dados da Aneel mostram que foram R$ 23,5 bilhões em 2020, R$ 33,5 bilhões em 2022 e R$ 48,9 bilhões em 2024.
Desde 2022, com o Marco Legal da Geração Distribuída, o setor registrou crescimento exponencial — e, com ele, o volume de subsídios. Em 2021, a parcela destinada à geração distribuída foi de R$ 1,35 bilhão. Em 2024, saltou para R$ 11,6 bilhões.
O presidente da Abradee, Marcos Madureira, defende a redução dos subsídios para o setor. "Precisamos parar de criar novos subsídios. Enquanto continuarmos criando incentivos sem dizer de onde virá o dinheiro, o custo da energia seguirá alto", afirma.
Há caminhos para baixar a tarifa?
Para especialistas do setor, um dos caminhos para reduzir o custo da energia é a implementação de tarifas dinâmicas, que ofereçam preços mais baixos nos horários de maior geração, como entre 10h e 16h, e mais altos nos períodos de menor oferta.
Assim, o consumidor poderia economizar ao, por exemplo, ligar a máquina de lavar ou carregar o carro elétrico durante o dia.
"O sinal de preço é fundamental para o uso eficiente do sistema. Ele vale para o consumidor — que pode usar energia em horários mais baratos — e também para o gerador, que pode ofertar quando ela vale mais", explicou o presidente da Abradee.






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